sábado, 20 de fevereiro de 2010

Dádiva

pé no freio, mão na marcha [acelera e devasta]
meio mundo de passante, passa a ‘zebra’ no volante
[por um fio atrofia o tic tac do relógio]

corre o dia, corre a via, corre e marca
[vê no chão as negras linhas já cantadas]
passa a fonte, passa o beco, passa a hora [atropelo]
contra-mão e contra-tempo, contraria, diz 'bom dia'
catracas e cartões de proximidade

meia hora, hora e meia, meio dia, sala cheia
hora extra, esfomeado, paletós e barras de cereais

pega folha, corta folha, engole a folha [autonomas]
nem se assustam mais com a pressa da partida [moídas]
goles negros e quentes, afago em copinhos com açúcar

pega a conta, paga a conta, olha a conta, conta o troco,
põe no bolso os trocados do seu Zé
vai de novo, cheio e pobre com mais 10

confere, liga, desliga, reclama, confirma
passa, transfere, repassa, esquece, repete e volta
meia hora, hora e meia, quase noite, sala cheia
quase 6 , quase lá, quase...e é agora!

Pega a pasta, põe na pasta, fecha a pasta, leva a pasta [vai embora]
vai de novo, vazio e pobre com mais 100
[musiquinhas de elevador pra que te quero]

embreagem, mão na marcha [acelera e devasta]
meio mundo se dirige, vai pra casa, tá na hora
é relógio que se arrasta, que se perde na buzina,
no embalo das meninas na avenida [açougue noturno: vende-se carne!]

chega em casa, ‘puta casa’
chega podre e vazio em pose para os 100 de cada bloco

põe a chave, gira a chave, maçaneta, abre porta fecha porta
põe a vida na mesa [corre um vulto, ou dois...]

e se deixa abraçar, acolher [exausto e inerte]
pelo não cotidiano...

Nenhum comentário:

Postar um comentário

.Pitacos alheios.