segunda-feira, 25 de outubro de 2010

coisa de menina | meu amor primeiro

mesmo verso impresso feito a hidrocor
em papel de carta e envelope igual
mesmo tom pastel, sem tirar nem pôr
carta com sabor, morango [artificial]

corre e põe a carta sobre a mesa
e se afasta faceira a espreita do que vem te apanhar
arregala o olho e aperta o peito
como na espera de se espalhar

[se jogar leve e solta para um beijo mexicano
para um olhar de aprovação de seu príncipe de aparelho]


tenso...

Poema encardido

a forma como me tomas, que me enolve inteira
carícia sorrateira, afago na alma
faz do corpo um, faz do meu e teu 'dois'
faz dias lindos das manhãs ainda escuras
despindo a noite nua de luar cativante
de olhar que ilumina

eu gosto do jeito dengoso que te cabe em meus braços
feito peça de encaixe, feito coisa partida e colada de novo
eu gosto do gosto, do gosto eu gosto
do sabor da goiaba madura, do desjejum [de você]

eu gosto da preguiça rasteira de toda saudade que teima
de toda angústia e todo sentimento teimoso
mas te envolvo aos poucos em meus braços
os laços, os atos, os feitos e ditos
do tempo que nunca se acaba, nunca se apaga, nunca dorme
e assim, um dia, eu sei
sem pressa, ão de partir estas dores...

domingo, 3 de outubro de 2010

Achados e perdidos

Faz um tempo
faz um bom tempo
faz um tempo bom aqui dentro
e dentro fica e dentro embala
toda a boa coisa, a boa nova
das velhas palavras

eu matutava o pó
sozinho e quietinho
na mansidão alvoroçada de dias iguais
de dias a mais e de dor [de dias mortais e com pressa]
eu mesurava os esforços da alma
balançeava cenas, media, comedia, emoldurava
títere [de cordas de aço]

tudo o que eu quero cabe
cabe e sobra num pedaço de um canto de papel de uma nota
cabe na fina ponta de um lápis
e queima feito palha na panela
que no meu peito explode feito fogos de artifícios

mas...como tudo que se acende se assenta
hoje penso em te entregar meu nó, meu pó, meu jeito
e andar duro e torto até os pés de vossa casa
apresentar a mazela e desgraça de desgarrada criatura
mendigar uma cura, um carinho, uma reza
pra fermentar minha fé, pra acalmar meu juizo
e trazer paz ao abrigo de um coração tensionado
pagar meus pecados bandidos com couro, com sal e água
e te entregar meus pés, meu chão, minhas costas
[como em prova de não temer mais nada
mais nada temo...]

mas que exiges muito desse coração tão recente
inda me questiono, remoendo momentos, momentos...
momentos...
por que fizestes brisas e cabelos?
por que fizestes perfumes e peles?
pra que fizestes dos olhos sorrisos?
e das palavras âncoras que penetram o coração profundamente....

se querías provas e defuntos resistentes...
tem paciencia comigo, que ainda não sou forte...
sou apenas louco de amor e juízo
por uma coisa e outra
uma aqui, outra acolá

e vivo de pedido em pedido
de perdão em perdão
pois culpado sou de tudo
de absolutamente tudo sou culpado

de te amar sobre todas as coisas
e de igual amar...

amar...

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Condimentos

certa feita coisa dita
faz marota ironia do vivido
história pra boi dormir e sonhar [feito gente]
e cria espaço gigante e profundo no beco da alma
como coisa encarnada, feito sarna e carniça
memórias plásticas, lástimas, profano e lúdico
de tudo um pouco, de quase tudo, de tudo um quase
terra de ninguém, sobreposto a mesa
soa ranhoso e gasto, soa dengoso e tímido
como que preguiçando de existir, de ser pra hoje
do masoquismo sonhador dos coadjuvantes
faz do meu e teu prazer momentâneo
e das coisas vividas alucinógeno