segunda-feira, 31 de maio de 2010

Lambança

não engulo corda
mentiras deslavadas e cabresto
há de ser só desprezo [rancor navalhento]

abrindo o corpo ao meio [rasgando]
como expurgando a verdade intrísseca

externalizo
pra não desmerecer as chances do destino
em dizer adeus, em desdizer
e ser feliz quem sabe num futuro próximo
num olhar gostoso, cítrico, cínico
de mãos deslizantes, de não's delirantes, de sãos...
nem tanto...

coisa perigosa...

[in]contidos

não goteja, banha
não lateja, late
abre a palma, apalpa, rasga, arranha
como aperitivo [mas não belisca]
arranca o pedaço inteiro

carne[...]

Complemento íntimo

não atuo mais nas entrelinhas, não figuro mais as poesias
não misturo mais amor e arte

quarta-feira, 26 de maio de 2010

quando o clichê é irrelevante

Imaginar os apertos e dores do peito é fácil!
é fácil quando não se quer desatá-los...
é fácil!

eu que não tenho e nunca tive letreiro na testa
nem placas luminosas encandeando o acaso
só tive dois aliados na vida de amores
[se é que disso posso chamar]
telefone e lápis

eu que nunca tive letreiro na testa
nem setas amarelas rígidas, curvícas, zigzeas
tenho um abuso tremendo dos trotes do coração
que teima que bate e rebate na caixa toráxica
como que remuendo uma coisa terna
uma coisa besta e frágil que é gostar

eu que nunca tive, não tenho e nunca vou ter letreiro na testa
nem versos pronto, nem rimas ricas, e sou do contra
liquidificador é útil! [...]
prefiro as coisas ditas e concretas
a me perder nas cores do encantamento

é!

cansei de matutar espaços no coração alheio...

Saída

Saída é porta de fundo
é porta de entrada
é porta alguma
saída é ato, é grito
saída é um conto escroto
de gargalhada gostosa

saída é fim de espaço
é começo de fora
é tranca e trinco
vermelho aço

saída é mansa, é sorrateira
é uma arte francesa
é um sopro

saída é medida pras horas
é medida de som, de sopro
é o incontido, é a escapatória
alívio ou grito
é estardalhaço

saída é orifício, é vão é vidro
é um mapa, um percurso, um marco
saída é mar em barco
é mão na angústia latente

saída é um respirado fundo
é coisa inventada pra pergunta difícil
saída é concreto é vazio
é esperteza de muleque
é "sei lá, tio! Sei lá..."

Sei lá que rumo tomar...

Apreço por desmérito

eu como feijão em plena madrugada [ não por fome ]
feito chocolate é [doce] para as meninas [ por vício ]

eu durmo sentado feito véio, feito combrador de ônibus
e compro jornal de manhã a 25 centavos

eu perco a noite mirando, ancioando do mundo um retorno
naquela janela sem vento, naquela tela pintada
a pixels e pop-ups marotos brincando de fazer o gaspar

eu "dou um judeu" vez em quando, pro número não ficar na conta
só pra fazer o registro, do meu pensamento em você
naquele momento indeciso, se o que importa é o plano, é o custo, é a meta
ou é mesmo o sorriso, que só teu perfume desperta

te faço uns poemas pobres, de rimas baratas ou sem rima alguma
só pra fazer de cult, fazer de highlovermastercrazycrazyforyoudear

mas é que eu sou assim, esse tropeço de gente
querendo dizer, querendo rimar, querendo sentir forte e junto
tudo que finca em meu peito

e se não posso por meio de rimas fazer direito
faço mesmo errado, mesmo sem jeito
pois mais que tudo que pra mim importa
mais que tudo pra mim...
é ela!

Das bandas de cá pra dentro

terra de ninguém
diz-se do cadáver severino
terra de menino, pixote, moleque minguado
terra de machado, de pontas e ossos caídos
terra de rios seco, palma e terra rachada

terra de inchadas, de canteiros e cercas
terra de desmérito, de pecador [agoniza]
terra de muxoxo, nem de lama, terra de barro
terra com açúcar, doçura de barriga vazia

terra de ninguém, terra de medo, terra de cova
terra de dois sóis [um de noite, um de dia]
escorrendo à testa, ressecando os dedos
terra que morcego voa livre e fácil

terra de justiça navalha, terra esquecida, terreno nobre
no bucho seco e pobre de uma nação [Pernambuco]
corando o coro, esticando a pele, evenlhecendo o jovem[maduro]
sugando sedento até o último suspiro pingado esperançoso gritante da prece

fazendo sereno e cantiga pra matar até o tempo...
pra bem dizer os que vencem o purgatório na terra
espia longe e úmida, chuva da libertação...

Dura

Na vida o coro faço laço d'água
nao pinga dote margarida amiga
consede a cena quase fim avisa
morre precoce [preço quase vício]

platéia atenta som de ser castigo
cravando drama no peito atraca
faz mata adentro fogo em palha e juizo
empalha a calma navalha de moço é cega


é quase homi, quase macho, quase foice
quase um açoite [emaranhado de pernas]
destoa mingua, lanche da tarde e castigo
da vida manga, da vida dura, da vida vai-se

escola compareço, careço de prece, pesadelo
mimo muleque de mangue [folgado]
é suco na jarra e chiclete
feito muriçoca de lagoa

mancebo criado com vó...