sábado, 13 de novembro de 2010

Manuela

Manuela foi e não foi volta pra casa
pra arregar o almoço e saciar o umbigo
que pálido e sujo cola na costela
que enclausura as lombrigas
num retiro casto de leite e gordura

Manuela amarela corre descalça nas vielas da vida
saltita feito mula no lixo da feira do sábado de manhã
bem dizendo a dádiva divina que lhe faz correr

anda Manuela pelo meio do mundo de uma rua só
colhendo memórias e semeando lembranças
nos outros e outros que vêem Manuela só sorriso passar

Manuela não calça patrão algum
ela não pede nada, não mendiga, nem cheira o suvaco alheio

Manuela tem o dom não terreno, coisa super estranha
de gente de fora da terra, de gente de fora do mundo
de gente de outro lugar

Manuela cativa tão forte, tão rápido
gente que nunca viu Manuela na vida
por pura identificação das almas
coisas dos olhos que ninguém entende [é coisa só sentida]

Manuela não sabe contar mais que cem carneirinhos pulando a cerca
nem sabe se cerca é com "C" ou com "S"

mas Manuela sabe o que é perto e o que divide
sabe o que separa e o que junta
e sabe da impossibilidade da transferência de sentimentos por osmose

Manuela é menina esperta, menina sabida
que sabe mais coisa da vida do que todo mundo dessa sala
todo o mundo desse mundo
sabe mais coisa que todas as estrelas do universo

porque Manuela que é Manuela
já desistiu de contar e saber de tudo
pra descobrir que mais importante é o que se sente
das pontas dos dedos ao fundo da alma...

Perante os parênteses

nada vem a boca, não sei se é cheio ou vazio
não sei se é fartura ou se é falta
só que me falta palavra
seja coisa dita, coisa pensada

não tem a ver com coisa alguma
não tem a ver com dor, nem carne
não tem de ambas as partes preocupação ou receio

da parte que me cabe, das duas, das três e meia partes de mim
rogo por ter pressa, por ter ansia, por ter medo
de viver e morrer assim, sem poder ser ímpar, de ser par eterno

nas cores e tons de cada manhã, cada som, cada bronze
feito memória recente e memória dormida
na missão de lembrar as mazelas da vida
de lembrar pormenores de fagulhas felizes

[queima e arde em gozo um estalo refrescante de saudosa sinfonia a alma]

caduquices existenciais...

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

coisa de menina | meu amor primeiro

mesmo verso impresso feito a hidrocor
em papel de carta e envelope igual
mesmo tom pastel, sem tirar nem pôr
carta com sabor, morango [artificial]

corre e põe a carta sobre a mesa
e se afasta faceira a espreita do que vem te apanhar
arregala o olho e aperta o peito
como na espera de se espalhar

[se jogar leve e solta para um beijo mexicano
para um olhar de aprovação de seu príncipe de aparelho]


tenso...

Poema encardido

a forma como me tomas, que me enolve inteira
carícia sorrateira, afago na alma
faz do corpo um, faz do meu e teu 'dois'
faz dias lindos das manhãs ainda escuras
despindo a noite nua de luar cativante
de olhar que ilumina

eu gosto do jeito dengoso que te cabe em meus braços
feito peça de encaixe, feito coisa partida e colada de novo
eu gosto do gosto, do gosto eu gosto
do sabor da goiaba madura, do desjejum [de você]

eu gosto da preguiça rasteira de toda saudade que teima
de toda angústia e todo sentimento teimoso
mas te envolvo aos poucos em meus braços
os laços, os atos, os feitos e ditos
do tempo que nunca se acaba, nunca se apaga, nunca dorme
e assim, um dia, eu sei
sem pressa, ão de partir estas dores...

domingo, 3 de outubro de 2010

Achados e perdidos

Faz um tempo
faz um bom tempo
faz um tempo bom aqui dentro
e dentro fica e dentro embala
toda a boa coisa, a boa nova
das velhas palavras

eu matutava o pó
sozinho e quietinho
na mansidão alvoroçada de dias iguais
de dias a mais e de dor [de dias mortais e com pressa]
eu mesurava os esforços da alma
balançeava cenas, media, comedia, emoldurava
títere [de cordas de aço]

tudo o que eu quero cabe
cabe e sobra num pedaço de um canto de papel de uma nota
cabe na fina ponta de um lápis
e queima feito palha na panela
que no meu peito explode feito fogos de artifícios

mas...como tudo que se acende se assenta
hoje penso em te entregar meu nó, meu pó, meu jeito
e andar duro e torto até os pés de vossa casa
apresentar a mazela e desgraça de desgarrada criatura
mendigar uma cura, um carinho, uma reza
pra fermentar minha fé, pra acalmar meu juizo
e trazer paz ao abrigo de um coração tensionado
pagar meus pecados bandidos com couro, com sal e água
e te entregar meus pés, meu chão, minhas costas
[como em prova de não temer mais nada
mais nada temo...]

mas que exiges muito desse coração tão recente
inda me questiono, remoendo momentos, momentos...
momentos...
por que fizestes brisas e cabelos?
por que fizestes perfumes e peles?
pra que fizestes dos olhos sorrisos?
e das palavras âncoras que penetram o coração profundamente....

se querías provas e defuntos resistentes...
tem paciencia comigo, que ainda não sou forte...
sou apenas louco de amor e juízo
por uma coisa e outra
uma aqui, outra acolá

e vivo de pedido em pedido
de perdão em perdão
pois culpado sou de tudo
de absolutamente tudo sou culpado

de te amar sobre todas as coisas
e de igual amar...

amar...

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Condimentos

certa feita coisa dita
faz marota ironia do vivido
história pra boi dormir e sonhar [feito gente]
e cria espaço gigante e profundo no beco da alma
como coisa encarnada, feito sarna e carniça
memórias plásticas, lástimas, profano e lúdico
de tudo um pouco, de quase tudo, de tudo um quase
terra de ninguém, sobreposto a mesa
soa ranhoso e gasto, soa dengoso e tímido
como que preguiçando de existir, de ser pra hoje
do masoquismo sonhador dos coadjuvantes
faz do meu e teu prazer momentâneo
e das coisas vividas alucinógeno

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Post scriptum

tentei te enviar um carinho
assim de palavras curtas, assim de palavras ternas
das coisas de ontem e antes
das coisas que não quero mais

eu vi o teu nome na tela
entre Teresa e Thiago
entre rancores e magoas
eu vi o teu nome cortado
num coração espetado na seta de louco cupido
que fez dos teus olhos meu fogo
que fez de amores amigos

e entre uns abraços e beijos
de coisas azuis encarnadas
eu fiz um último apelo
em nome das coisas passadas

mas como coragem me falta
e rende em mim té agora
não deixo passar percebido
camuflo em agressões meu pedido

mas deixo escapar um suspiro
por fim a clareza desperta

visualizar

...

cancelar

não serei eu o último romantico
pois que já não se fazem amores como antigamente...

Peripércias

com teu amor eu pude ser verdade
na nossa dança de esconde-esconde...
sobrevida, sobressalto, sobretudo

fortes pares, bocas doces
coração à vinagrete...

bonecas russas

tem certos amores marotos que batem na porta do peito
entram, prometem o mundo, fazem bagunça e partem
feito vendedor de enciclopédia

não há saída, o amor quando entra é caso perdido
é guerra interna [entre o juízo e a falta que faz...]

mas palavra que é palavra tem força e vontade própria
ingrato e indigno daquele que a desfaz
que diz e rediz coisas da boca pra fora
que brinca de vida e de escrita com os sentimentos[alheios alheios?]

eu prefiro mil vezes as cartas vazias daquele que nada dizem
mas que nos fazem provar céu e inferno em segundos
feito montanha-russas, feito chicletes ácidos

eu prefiro mil vezes os romances que entram pelas frestas, pelas fechaduras
daqueles amores quentinhos que põem tudo a ganhar e a perder [deixam tudo a prova]
amores de roleta-russa...

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Dos amores que tive e tenho...

Em tudo que sucede Abril...

Azedo
Diz que é azedo o sabor dos teus dias
pois que essa doçura tua é estar em cela
feito cana doce, feito cana pura
embreagante travessura
que culmina em mordida na orelha
[priva-me que um dia te alcanço, viajo, viajo...]

Loucura
Diz que é loucura te beijar a boca
pois que o ato grava na testa a índole
feito carimbo e letreiro, feito atestado de óbito
irresistível aventura
que culmina em caixas e lembranças
[como na promessa de não ser jamais, apenas portas fechadas...]

Ameno
E do acaso tive a sorte de ser tu resposta
para um miolo contido, retido, trancado
fez do amanhã distante um 'só para viver o hoje'
fazendo da dança da vida um múltiplo orgasmo
ao respirar teus ares como te consumindo
te absorvendo, te englobando, te sentindo

pois que o amor mais ameno é o menos ameno de todos
pois treme, rasga, grita, incontrolável e pungente
nos corpos, nas almas, nas mãos
e culmina no toque suave das pontas dos dedos
[na promessa de ser dalí em diante, em diante, em diante...]

pois nos amores mais amenos o para sempre inexiste
existe apenas um e outro e mais nada...

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Routine

madrugada vazia
agenda cheia e fria
monocromatizando a matina
modelando as tardes para ver passar
para ver ir embora
infelicidade não adjetiva horas
adjetiva vidas

mas que não é escolha
não é alternativa
é coisa vivida
aos anos e aos poucos
mergulhando e nadando macio e sereno
na incontrolável leveza da rotina
feito cortina em brisa da tarde
feito algodão doce, feito sotaque gostoso
feito ternura, cafuné e cansaço
[é inegável que combina sem esforço]

mas que tem uma coisa nossa, só nossa
que é nossa maior felicidade
mais que flores ao acaso
mais que um beijo sorteado no tempo
mais que um abraço do vento
mais que coisa enlatada
mais que férias, domingos ou feriados
não há felicidade maior para a rotina que o imprensado
pois que amarra e torna possível
a ida e a volta dos que nunca são

para a segunda sempre pontual...

Sobre o amor e outras coisas...

Não é necessário, não é óbvio, não é prático!

É simplesmente e completamente complexo, desnecessário e inevitável!

É quase como estar possuído por uma retroescavadeira...

Embaralho

Sensatez não é coisa certa, não é coisa sólida, não é coisa útil
é coisa besta de quem não tem nada a perder no acaso
que tem tudo sob controle e sob medida
é coisa fingida de quem tem receios
de quem não arrisca, não petisca[não fuma, não bebe, não fode...]

Sensatez é coisa amargurada
de quem não tem fundo de poço, só tem uma beira, uma borda
de um buraco que nunca existiu [barreiras pra não-escaladas]
feito galinha sem muito osso, coisa maciça e sem graça

Sensatez é coisa amarela ainda
de um nunca ainda, um quase ainda, um quem sabe um dia ainda
[mas é nunca mesmo!sempre será...]

Tenho compaixão dos sensatos, pra não dizer abusinho
pra não dizer peninha, pra não dizer que tenho uma vontade imensa
tão grande e tão imensa e tão petrificante
de saculejá-los até formigar o cerebelo
de lhes arrancar os cabelos e coagulos...

pra não dizer que não tenho nada de bom no meu coração
eu tenho pulsos aleatórios[ritmados]
como qualquer outro futuro cadáver não emancipado
mas se sensato sou, ainda em meus inglórios dias
deixo uma mensagem vazia de quem não tem vários contos, vários casos
mas um receio bem grande de uma desilusão precoce
de uma morte prematura, de uma verdade crua
da impotencia frente ao inevitável

perdão se não sei distinguir o que é ser sensato
o que é ser covarde...

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Braboletas

não vivo, não sonho, não sinto!

nego qualquer ato de insanidade
pois que nada sei desses assuntos dificeis...

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Lambança

não engulo corda
mentiras deslavadas e cabresto
há de ser só desprezo [rancor navalhento]

abrindo o corpo ao meio [rasgando]
como expurgando a verdade intrísseca

externalizo
pra não desmerecer as chances do destino
em dizer adeus, em desdizer
e ser feliz quem sabe num futuro próximo
num olhar gostoso, cítrico, cínico
de mãos deslizantes, de não's delirantes, de sãos...
nem tanto...

coisa perigosa...

[in]contidos

não goteja, banha
não lateja, late
abre a palma, apalpa, rasga, arranha
como aperitivo [mas não belisca]
arranca o pedaço inteiro

carne[...]

Complemento íntimo

não atuo mais nas entrelinhas, não figuro mais as poesias
não misturo mais amor e arte

quarta-feira, 26 de maio de 2010

quando o clichê é irrelevante

Imaginar os apertos e dores do peito é fácil!
é fácil quando não se quer desatá-los...
é fácil!

eu que não tenho e nunca tive letreiro na testa
nem placas luminosas encandeando o acaso
só tive dois aliados na vida de amores
[se é que disso posso chamar]
telefone e lápis

eu que nunca tive letreiro na testa
nem setas amarelas rígidas, curvícas, zigzeas
tenho um abuso tremendo dos trotes do coração
que teima que bate e rebate na caixa toráxica
como que remuendo uma coisa terna
uma coisa besta e frágil que é gostar

eu que nunca tive, não tenho e nunca vou ter letreiro na testa
nem versos pronto, nem rimas ricas, e sou do contra
liquidificador é útil! [...]
prefiro as coisas ditas e concretas
a me perder nas cores do encantamento

é!

cansei de matutar espaços no coração alheio...

Saída

Saída é porta de fundo
é porta de entrada
é porta alguma
saída é ato, é grito
saída é um conto escroto
de gargalhada gostosa

saída é fim de espaço
é começo de fora
é tranca e trinco
vermelho aço

saída é mansa, é sorrateira
é uma arte francesa
é um sopro

saída é medida pras horas
é medida de som, de sopro
é o incontido, é a escapatória
alívio ou grito
é estardalhaço

saída é orifício, é vão é vidro
é um mapa, um percurso, um marco
saída é mar em barco
é mão na angústia latente

saída é um respirado fundo
é coisa inventada pra pergunta difícil
saída é concreto é vazio
é esperteza de muleque
é "sei lá, tio! Sei lá..."

Sei lá que rumo tomar...

Apreço por desmérito

eu como feijão em plena madrugada [ não por fome ]
feito chocolate é [doce] para as meninas [ por vício ]

eu durmo sentado feito véio, feito combrador de ônibus
e compro jornal de manhã a 25 centavos

eu perco a noite mirando, ancioando do mundo um retorno
naquela janela sem vento, naquela tela pintada
a pixels e pop-ups marotos brincando de fazer o gaspar

eu "dou um judeu" vez em quando, pro número não ficar na conta
só pra fazer o registro, do meu pensamento em você
naquele momento indeciso, se o que importa é o plano, é o custo, é a meta
ou é mesmo o sorriso, que só teu perfume desperta

te faço uns poemas pobres, de rimas baratas ou sem rima alguma
só pra fazer de cult, fazer de highlovermastercrazycrazyforyoudear

mas é que eu sou assim, esse tropeço de gente
querendo dizer, querendo rimar, querendo sentir forte e junto
tudo que finca em meu peito

e se não posso por meio de rimas fazer direito
faço mesmo errado, mesmo sem jeito
pois mais que tudo que pra mim importa
mais que tudo pra mim...
é ela!

Das bandas de cá pra dentro

terra de ninguém
diz-se do cadáver severino
terra de menino, pixote, moleque minguado
terra de machado, de pontas e ossos caídos
terra de rios seco, palma e terra rachada

terra de inchadas, de canteiros e cercas
terra de desmérito, de pecador [agoniza]
terra de muxoxo, nem de lama, terra de barro
terra com açúcar, doçura de barriga vazia

terra de ninguém, terra de medo, terra de cova
terra de dois sóis [um de noite, um de dia]
escorrendo à testa, ressecando os dedos
terra que morcego voa livre e fácil

terra de justiça navalha, terra esquecida, terreno nobre
no bucho seco e pobre de uma nação [Pernambuco]
corando o coro, esticando a pele, evenlhecendo o jovem[maduro]
sugando sedento até o último suspiro pingado esperançoso gritante da prece

fazendo sereno e cantiga pra matar até o tempo...
pra bem dizer os que vencem o purgatório na terra
espia longe e úmida, chuva da libertação...

Dura

Na vida o coro faço laço d'água
nao pinga dote margarida amiga
consede a cena quase fim avisa
morre precoce [preço quase vício]

platéia atenta som de ser castigo
cravando drama no peito atraca
faz mata adentro fogo em palha e juizo
empalha a calma navalha de moço é cega


é quase homi, quase macho, quase foice
quase um açoite [emaranhado de pernas]
destoa mingua, lanche da tarde e castigo
da vida manga, da vida dura, da vida vai-se

escola compareço, careço de prece, pesadelo
mimo muleque de mangue [folgado]
é suco na jarra e chiclete
feito muriçoca de lagoa

mancebo criado com vó...

sábado, 13 de março de 2010

Metáfora

Uso do dito e não dito[abuso]

Preciso!

quer luz em conversas de tapas e coices

já é tarde...

[bate a porta e parte]

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Sexta casa de sete
frente a janela vazio
corre lá fora urgente
na pressa me perco no rio

marejado dos olhos da alma
carente de sede e de pressa
fecha a porta do peito
no ato na beira escorrega

derrama lágrima e vinho
tristeza é a cruz que carrega
dos dias vividos a fio
à margem, sedento desperta

carece de luz [passatempo]
o breu dos teus olhos padece
amor se constrói nos momentos
fermento de fé não é prece

é fogo queimante, ascendente
no peito alegria exala
não vejo no tunel finito
do abismo nao vejo escalada

só ida de quem acredita
medida nas pontas dos dedos
da alma soluço de vida
do corpo um ultimo apelo

desejo com todas as forças
que vingam em mim té agora
nã sei se mereço ser tudo
ser coisa, ser feito, ser hora

os nós na garganta e no corpo
ardentes cravantes serenas
sedentos de tântrico gozo
faz imensa alma pequena

no meu infinito de agora
dos dias iguais ritmados
não quero ser mais atropelo
e faço do último apelo

um pulso!

de quem inda tem fé na vida...

Dádiva

pé no freio, mão na marcha [acelera e devasta]
meio mundo de passante, passa a ‘zebra’ no volante
[por um fio atrofia o tic tac do relógio]

corre o dia, corre a via, corre e marca
[vê no chão as negras linhas já cantadas]
passa a fonte, passa o beco, passa a hora [atropelo]
contra-mão e contra-tempo, contraria, diz 'bom dia'
catracas e cartões de proximidade

meia hora, hora e meia, meio dia, sala cheia
hora extra, esfomeado, paletós e barras de cereais

pega folha, corta folha, engole a folha [autonomas]
nem se assustam mais com a pressa da partida [moídas]
goles negros e quentes, afago em copinhos com açúcar

pega a conta, paga a conta, olha a conta, conta o troco,
põe no bolso os trocados do seu Zé
vai de novo, cheio e pobre com mais 10

confere, liga, desliga, reclama, confirma
passa, transfere, repassa, esquece, repete e volta
meia hora, hora e meia, quase noite, sala cheia
quase 6 , quase lá, quase...e é agora!

Pega a pasta, põe na pasta, fecha a pasta, leva a pasta [vai embora]
vai de novo, vazio e pobre com mais 100
[musiquinhas de elevador pra que te quero]

embreagem, mão na marcha [acelera e devasta]
meio mundo se dirige, vai pra casa, tá na hora
é relógio que se arrasta, que se perde na buzina,
no embalo das meninas na avenida [açougue noturno: vende-se carne!]

chega em casa, ‘puta casa’
chega podre e vazio em pose para os 100 de cada bloco

põe a chave, gira a chave, maçaneta, abre porta fecha porta
põe a vida na mesa [corre um vulto, ou dois...]

e se deixa abraçar, acolher [exausto e inerte]
pelo não cotidiano...

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Epifania

Queria mesmo era ser um desses caracóis
um desses cachos...me despentear...[perdida!]
enquanto você dança, doce, toda essa sua graça,
essa sua ginga morena, menina, mulher...

como criança, brincando de ser feliz[e brilha!]
Linda e apaixonante como raio de sol
que espreita à janela na manhã de domingo
[laranja e quente]

mas a dor e o ardor que bate, leva[ventania]
dando a cara a tapa, o gozo ao peito[agonia]
sem mais, antes que não te meça as palavras...

ai de mim que sou teu porta copos...

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Laranjas mimo

Das pulgas noites [maresia e sereno]
devoto, santo luar que se vende
mendingando olhares, ardores e coito
das bocas livres, dos anos, dos ventres

a 'insaciancia' tola que ascende
fiz vicio e amor das nossas linhas tortas
fiz magia e pó do nosso excesso de química

pra quem não tem dó das poucas aspirinas
pensamentos ácidos, comentários úricos
e estrelas cadentes[alfinetadas, cínicas]

mas se faz de céu toda vã melancolia que nos prende
se fez de mar e mergulha [passatempo]
dos dengos a mais, das amoras e camisas de vênus
faz o paraíso dos sorrisos das manhãs[únicas]

cravando estacas no peito, como bandeiras de conquista
coração que ama não é bobo, é masoquista...

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Fantasias

Caraminholas na cabeça [estocando cachos]
Laços de fita cetim, presos a pele [suave]
Toque de cores e cordas, fantasiando espetaculos

Eu que nem queria ser este vulcão ou esta liga
Sinta na pele o aroma das auroras verdes [nada maduras ainda]

Mas quem não quer ser semente? [semeado?]

Tolo, me usa e lambusa, me joga e abusa campo minado]
Escalando, voando e explodindo...
em felicidade colorida!

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Reticências

mato&minto
lato&lambo
luta&foiçe
[ledo engano?]
troca o fone
coisa o coice
foste agora
cega noite
mata o rio
sede é água
mulambento, passa o rodo
mete a cara
pare para
saciar esta loucura
poetize...

se!

Labuta

cada um tem sua lógica de dizer maravilhas...

corro o olho na lata do pobre pedinte mendigo
jogo na beira estilhaço
Maroca cantando vantagem
gota pingada na margem
folha caída
e poesia

o velho na praça é pressa, crinça danada [pentelha, peteca]
mania de ser farofeiro, cabreiro morrendo de vespera

abraços [e braços] matuto, dengoso e largo
marina se forma, transforma, conforma medindo distância
careçe de apreço e de prosa o maroto sorriso
feito pinto no lixo e charque com farofa d'água

eu sei, essa longa guerrilha de versos sem sentidos
faz rimar isso e aquilo por empatia ou receio
quer cativar aos ouvidos, ao juizo ou resquicio qualquer
só um apelo conjunto de letras por coisa alguma

mas que é vida, é labor qualquer página que se vira...
qualquer dengo, qualquer vício e o peteleco na testa
é verso valsado na ginga da 'bonita, bonita'
vida que me leva agora

feito musica, feito escaladas
e aqueles passos que não nos levam a lugar algum
estáticos!
apreciando o que estar por vir...

cada um tem em sua inlógica a certeza de VIVER maravilhas...

paraíze-se, então, nos nós!

domingo, 10 de janeiro de 2010

Conformação

nhá! não me vale nada forçar essas dores
por puro 'deslude' e acaso poético
deveria eu esquecer meus amores
e afogas as mágoas em puro ébrio
[desvanecendo as manhãs de chuva e culpas tendenciosas]

um copo quente vem afagar meus dias
um corpo quente, frio em mim deságua
e a maré da vida te fez o meu abrigo, meu juízo e minha calma
e ainda assim és das dores a mais doída
[bandida, distante e singular]

se na batida coração hesita
perdendo a calma, ascendendo centelhas, soltando faíscas
tendendo a fuga parcial da vida [alheia-se, viaja, corre para o lado de quem ama]
chorando as dores de coisas ainda não vividas [impossibilidade momentânea]
e volta...
Baque! epitáfio da minha vida [será Karma?]

mas se é chama ou coisa parecida
não é amor, não pode ser, é coisa antiga
mas nada me resta se não ouvir tuas musicas
apreciar de longe tuas formas, tuas curvas
esse jeito, esse giz , essa arte
como quem dança e brinca com o meu sorriso...

eu não desisto!

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Desalento

eu perco a noite procurando o dia
maquinário frio pulsando sangue [agora]
atalaia atento vibra ao perfume [encandeia]
amador é só [caminhão vazio mendigando areia]

quanta mesmice em um só
de olhos a toa e a tudo
qualquer corpo é um corpo
qualquer coração é um pulso

hora medindo palavras, hora entoando sussuros
querendo esconder no sorriso,
um vício, um vazio, uns amores
no peito batuque do agora
sem freio, de tudo prova [zero sabores]

mas é certo que em tempo
tudo que sente se assenta
pra cada hora uma hora
e pra cada momento...
[pastilha de menta?]

inda carrego o vício das manhãs despedaçadas...

domingo, 3 de janeiro de 2010

Bóramar!

sentelha [fina] vermelho estalo em noite escura
fagulha que respinga vício de céu estrelado
carrega serena nos olhos doce encanto, menina
aduba morena no peito aperto e amores

fervilha os rubros rumores ao pé do ouvido
sorrisos e borboletas nuca e arepio
o brilho dos olhos espanto[por um fio]
o virgem orvalho da poça platônica

futuros e noites ardentes de verdades insólidas
carentes, carícias, apegos, chamegos abraços
olhares, perfumes de toques momentos minutos
cabelos, pernas e lobos [mordidas]

e não é amor completo e rico
se não for saudade, ausência e choro de graça
[baldes de esperança, litros de presença]
se não for preguiça, se não for rotina
se não for pirraça, se não for toalhas,
se não for pinturas, se não for cacos
e pratos, e chinelos, e pantufas, e bebes,
e ciúmes, e perfumes e manchas de batons...